Programa de crédito de impacto socioambiental para pequeno produtor de cacau vence edital do BNDES e terá aporte de R$ 4 milhões
Projeto pioneiro de crédito rural sustentável no Brasil, o CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) Sustentável foi o primeiro colocado em sua categoria na chamada pública do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para um novo modelo de financiamento dos projetos socioambientais do banco: o “BNDES Blended Finance”. Tendência das finanças sustentáveis, o blended finance mescla recursos de investidores do mercado e de organizações filantrópicas, que contribuem para a viabilidade econômica dos projetos.
Concebido em 2020 pela ONG Tabôa em parceria com os institutos Arapyaú e humanize e o Grupo Gaia, o CRA Sustentável já beneficiou mais de 200 famílias que trabalham com cacau associado a outros cultivos em sistema agroflorestal no Sul da Bahia. O propósito do CRA é viabilizar o crédito para pequenos produtores e melhorar a qualidade de vida das famílias por meio do aumento de renda e do incentivo à adoção de métodos de agricultura de baixo impacto ambiental.
Única instituição de fortalecimento comunitário na categoria Bioeconomia Florestal no edital do banco, a Tabôa receberá do BNDES um aporte de R$ 4 milhões para financiar eventuais perdas e dar assistência técnica aos beneficiados na próxima rodada do crédito, prevista para meados de 2023. O recurso do BNDES permitirá ao projeto alavancar mais R$13,5 milhões. “Quando apresentamos a proposta, tínhamos a confiança sobre o trabalho que já está sendo feito, resultado da soma de forças entre diferentes organizações e dos claros impactos socioambientais gerados no primeiro ano de operação da iniciativa”, destaca Roberto Vilela, diretor-executivo da Tabôa, sediada em Serra Grande (BA).
Em seu primeiro ano de implementação, o CRA Sustentável já apresentou resultados surpreendentes para a cadeia do cacau. Houve um incremento de quase 40% na renda bruta média dos agricultores familiares, resultado explicado pelo aumento da produtividade – que cresceu 36,2% no cacau commodity e 58,6% para o cacau de qualidade. Nesse período, o número de produtores de cacau de qualidade saltou de 16 para 44 entre os tomadores do crédito, um crescimento de 157%. Outro número que chamou a atenção do mercado foi o índice de inadimplência da operação, que ficou em 0,48%, considerado muito baixo.
“Esses dados quebraram alguns paradigmas sobre o modelo de crédito para pequenos agricultores, como a adimplência e a produtividade, por exemplo. Muitos desses produtores rurais aplicam práticas agroecológicas, que também costumam ser questionadas em relação à produtividade e potencial de retorno. O projeto mostra que esse é um modelo muito viável para esse perfil de agricultor”, afirma Thais Ferraz, diretora-executiva do Instituto Arapyaú, organização filantrópica que tem o desenvolvimento sustentável da região Sul da Bahia como um de seus principais eixos programáticos.
Financiado pela filantropia, o serviço de assistência técnica que acompanha o crédito tem sido essencial para garantir boas práticas de produção, aumento de produtividade e de qualidade das amêndoas de cacau. “O indicativo de aumento de renda vem acompanhado do incentivo à adoção de métodos de agricultura de baixo impacto ambiental, o que reforça o quanto podemos ir mais longe oferecendo novas oportunidades aos agricultores e incentivando um esforço colaborativo – que reúne filantropia, investimento privado e negócios de impacto”, comenta Georgia Pessoa, diretora executiva do Instituto humanize.
Com a conquista do crédito do BNDES, a próxima rodada do CRA vai beneficiar também produtores de cacau no estado do Pará. “O escopo da proposta é oferecer crédito e acompanhamento técnico rural para 600 agricultores familiares produtores de cacau, sendo 450 na Bahia e 150 no Pará. Para o acompanhamento técnico, contamos com o apoio de organizações parceiras como a ONG Solidaridad, no Pará, e a Rede Povos da Mata, por meio da plataforma Muká, que desenvolvemos colaborativamente na Bahia”, explica Roberto.
De acordo com o previsto no projeto, serão investidos R$ 22,5 milhões, dos quais R$ 10,9 milhões de fontes filantrópicas – direcionados principalmente para assistência técnica – e R$ 11,6 milhões de fontes comerciais. Do aporte de R$ 4 milhões do BNDES, metade entra como origem filantrópica e a outra metade como capital de mercado.
Sustentabilidade. Para ser considerado sustentável, um título atende a critérios e protocolos e precisa financiar ações que contribuam para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). “Espero que um dia a gente não precise mais falar que um CRA é Sustentável, porque não faz sentido investir em algo que cause prejuízo ao meio ambiente. O CRA Tabôa é um exemplo de como olhar risco x retorno e agregar impacto à conta – e por isso investidores cientes dessa responsabilidade abraçaram o projeto”, explica João Paulo Pacífico, do Grupo Gaia. “Ser selecionado nesse inédito edital é a comprovação de que estamos fazendo um trabalho de impacto de referência para todo Brasil. E o resultado é que o projeto irá crescer e causar transformação na vida de mais pessoas e da comunidade”, complementa.
Para acessar os recursos, os produtores precisam se comprometer a não ter trabalho infantil e a preservar áreas de proteção permanente, como beira de rios e córregos, encostas e nascentes. Todos os agricultores beneficiados na Bahia produzem o cacau no sistema cabruca, em que o fruto é cultivado à sombra das árvores, mantendo a Mata Atlântica em pé.
Serviço
A próxima rodada de créditos para pequenos agricultores do cacau da Bahia e do Pará começa em 2023. Quem tiver interesse em pleitear crédito deve entrar em contato com Gabriel Chaves, gerente do Programa de Desenvolvimento Rural da Tabôa Fortalecimento Comunitário: (73) 99843-1585.